Flávio Ribeiro
Saudades de
todos com quem aprendi e dos sonhos que sonhamos acordados em plena vida
adormecida, neste espaço das lembranças. Essa é a minha primeira impressão.
Agradecido é a segunda, considerando que fui alvo de respeito e amizades
conquistadas.
Quando
pensei a escrita do projeto para a dissertação confesso que estive com base
mais em valores do que em fatos. Minhas autorreflexões iniciais me conduziam a
descobertas que até então não sabia falar.
Acreditava que tinha muito discurso e pouca vida, muita letra e pouca vivência,
e que estava no mundo, e o mundo em mim, em planos ideais.
Almejava
algo que ainda não tinha visto, desejava caminhos que acreditava ser o certo,
mas o que era/é o certo? Onde aprendi essa consciência? De onde surgiu o meu
modelo, sua gênesis para que o reavalie? Quem pode me garantir que
método/caminho que tenho escolhido é eficaz, confiável? Ele também não é com
base nos modelos que costumo questionar? Como é possível reavaliar a vida com
os mesmo modelos? A vida é simples e profunda, e eu complicado e raso.
Arrisco-me numa tentativa de escrever sobre a vida ordinária, sua simplicidade
vivida complicadamente por nós. Quem somos nós, senão eu mesmo generalizando.
Ainda não apreendi o que muitos julgam
ser necessário para viver a vida. Confesso que rejeitei muito esse
‘’necessário’’, porque pensava que ele me conformaria a outro que não sou eu.
Somos singulares. Considerei muitos desses dizeres como receitas de ‘’Ana Maria
Braga’’; de longe parecia fácil de fazer, mas não sabia ao certo, pois não
tinha a vivência. Mas sempre procurei ter alegria do viver de uma criança, não
estando alicerçado pelo o que era, nem tão pouco pelo o que tinha, mas essencialmente
por aquilo que podia fazer (gosto de ir de vez em quando à ‘’terra do nunca’’
para usufruir a espontaneidade que reside nas crianças), mas no maior tempo sou
adulto e utilizo maquinalmente as minhas habilidades (especializadas) como
sistematizador da vida, e consequentemente sou flagrado, como já era de se
esperar, em superficialidades. Os especialistas são notáveis pelas suas
capacidades, julgam o sabor das laranjas sem ao menos prová-las. São homens de
receitas.
Em toda receita há um ou mais ingrediente
que se diz para ser adicionado ‘’à gosto’’, e é esse o grande diferencial, pois
fala de algo particular, singular. Se você se mete em preparar uma sopa
seguindo alguma receita e ao prová-la, sinta que necessite de mais sal, então
pense: com base em que você pode dizer que precisa de mais sal? Acredite,
existe um sabor ideal para essa sopa na sua cabeça. Então se acrescenta sal aos
poucos, até ao ponto em que se diz: agora sim, está boa!
Penso que às vezes a vida, nossas
pesquisas... Encontram-se sem sabor porque não consideramos que certos
ingredientes devem ser adicionados ‘’à gosto’’.
Há momentos em que somos clientes
aguardando ‘’pratos feitos’’ (PFS) da vida, da escola, universidade, autores de
literaturas, orientadores..., arrumado e servido. Quando encontramos bons
‘’PFS’’ nos alegramos, quando contrário reclamamos com quem o preparou.
Considere que sendo bom ou ruim é a mesma coisa; não foi feito por você
mesmo. Gloria ou ruína estará sempre
sobre os outros, pois a estes, temos a tendência de lançarmos a
responsabilidade; e de fato são responsáveis porque prepararam o prato.
Acabei
de entrar na cozinha (dissertação) e vou me meter a cozinhar, mas é claro que
para isso foi necessário entrar num curso, e ainda estou nele, para aprender e
construir algumas receitas. Elas são
necessárias! Assim como o sal à gosto.
SANTOS, Flávio Fernando Ribeiro dos. o sabor ideal nas receitas. p.39- 41 In: A formação do professor/lugar: uma introdução às compreensões artístico-geografizantes. 131 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.
VER OUTROS TEXTOS DE FLÁVIO RIBEIRO
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Saindo da Terra do Nunca, e lendo esse belo texto, amei
ResponderExcluirbeijos